quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Um pouquinho de história


Modernismo, Circo-Teatro e Piolin

27032009

Texto de Verônica Tamaoki

Hoje, 27 de março de 2009, é o Dia Internacional do Teatro. No Brasil, hoje é também o Dia do Circo que, nos últimos tempos, talvez para ritmar com o internacional do teatro, tem sido chamado de Dia Nacional do Circo. Sendo assim, numa coincidência apenas aparente e verdadeiramente oportuna, o país que cultivou o circo-teatro comemora o circo e o teatro no mesmo dia.


O Dia Internacional do Teatro surgiu em 1961, durante o 9o Congresso do Instituto Internacional do Teatro (órgão da UNESCO). A data 27 de março assinala a inauguração das temporadas internacionais do Teatro das Nações, em Paris, cujo 1o Festival Internacional foi realizado em 1957. E nosso Dia Nacional do Circo foi instituído pelo Estado de São Paulo, em 1972, numa homenagem ao palhaço Piolin (Abelardo Pinto, 1897/1973) – 27 de março é o dia de seu nascimento. O Dia Nacional do Circo foi criado em São Paulo e atualmente é comemorado em todo o território nacional, do Amazonas ao Prata.


Disse que hoje é um dia de dupla comemoração e o país que cultivou o circo-teatro comemora o teatro e o circo no mesmo dia. Pois bem: circo-teatro é um gênero de espetáculo que reinou no Brasil desde o final do século XIX até meados dos anos 60 do século XX. Resume-se a um espetáculo de duas partes. A primeira traz números de equilibrismo, malabarismo, trapézio, palhaço e outras expressões e habilidades circenses, e a segunda consiste em peças teatrais, de todos os tipos: farsas como A Casa Mal Assombrada e A Menina Virou; comédias como Quem beijou minha mulher e Esta noite te matarei; dramas sacros como Os Milagres de Santo Antonio e o famoso Paixão de Cristo; dramalhões de fazer chorar até corações empedernidos, como diria um personagem de um desses dramas tipicamente circenses, como Honrarás tua Mãe e O céu Uniu dois corações.


Mas o que me faz escrever estas linhas é a necessidade de apontar o que me parece estar sendo passado despercebido pela maioria. Há exatamente 80 anos, no dia 27 de março de 1929, quando nem o circo nem o teatro tinham seu dia no Brasil ou fora dele, nossos modernistas festejaram o aniversário de 32 anos do palhaço Piolin com um almoço, no restaurante do Mappin Store. O evento foi chamado de “Festim Antropofágico” e tinha como principal prato o próprio aniversariante. “Vamos comer Piolin!”, anunciaram os modernistas. Sabendo que os antropófagos comiam seus inimigos para adquirir suas forças, o ato simbólico de comer Piolin consistiu numa verdadeira consagração ao palhaço. A “aristocrática horda de antropófagos gulosos de quitutes e de glória” incluiu os dois Andrade (o gordo Oswald e o magro Mário), Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia, Anita Malfati, Raul Bopp, Guilherme de Almeida, Benjamim e Elzie Péret, entre outros. Abelardo Pinto, que depois dessa homenagem, incorporou o nome do palhaço ao de batismo, passando a ser Abelardo Pinto Piolin, ocupou o espaço que havia sido deixado vago pelo teatro na Semana de Arte Moderna de 1922. E dado que, para os modernistas, o picadeiro era o berço do teatro nacional e Piolin o seu maior ator cômico, eles acabaram, com quatro décadas de antecedência, celebrando ao mesmo tempo o circo e o teatro.


E sendo hoje, senhoras e senhores, o Dia Nacional do Circo e Dia Internacional do Teatro, podemos então dizer: Viva o Circo! Viva o Teatro!

Verônica Tamaoki

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